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Literalmente as palavras não tem mais significado.



Literalmente as palavras não tem mais significado.

Literalmente, Evento canônico, POV e Faixa etária e esse "ovo de páscoa": as palavras não têm mais significado. É oficial: vivemos num mundo pós-linguagem.


Todo mundo já usou “literalmente” errado, pelo menos uma vez na vida. Pode ter sido um deslize, num papo descontraído, que te persegue até hoje. Ou então você, como o dicionário americano Webster’s, já aceitou que “literalmente” é tão usado de forma incorreta que vale mais a pena só aceitar que ele se tornou um sinônimo bem enfático de “figurativamente".


Com a chegada do TikTok uma nova onda de expressões e hashtags invadiu o mundo virtual. Uma das características marcantes desse fenômeno é o uso generalizado de hashtags como POV. No contexto das redes sociais, POV é uma sigla em inglês que significa point of view e pode ser traduzida, em português, como "ponto de vista" ou "perspectiva". Ela é normalmente utilizada para indicar que o conteúdo que está sendo compartilhado é uma representação ou uma narração da perspectiva de alguém. Aí você filma alguém fazendo algo, descreve o que ela tá pensando e digita POV. Não faz sentido.


A relação entre as palavras e as coisas é objeto de um longo debate na filosofia. Seriam os nomes que damos aos seres meras convenções ou seriam eles naturais e inerentes aos seres? Poderíamos chamar as mesas de cadeiras e as cadeiras de mesas, por exemplo?.

Falando de política, o nome de um partido político nem sempre está vinculado às ideias as quais defende e tampouco ao grupo ao qual pretende representar. Creio que o exemplo mais contundente que a história nos oferece foi o nome dado ao partido nazista de Hitler, Partido Nacional Socialista Alemão. Partido este que, embora professasse uma ideologia oposta ao socialismo, chegando mesmo a perseguir os socialistas e comunistas com a mesma violência que perseguiu a judeus, homossexuais e outros, usou do nome socialismo para atrair e trair as massas trabalhadoras.


Dentre os 29 partidos registrados no Brasil, nem o bizarro Partido da Mulher Brasileira (PMB), composto por uma maioria masculina, supera a dissonância linguística do Partido Novo. Quando surgiu, em 2015, o Novo tinha a ambição de ser a antítese das legendas que dominavam a política brasileira, criticadas pelo clientelismo, pela falta de espírito público e pela busca da perpetuação no poder. O uso de auxílio-moradia, demonizado nas propagandas partidárias, atraiu seus parlamentares. O Novo ganhou o título de pior partido para a causa socioambiental na Câmara. Os excessivos gastos com passagens aéreas também chegaram à bancada e se estendem a assessores.


Hoje o Partido Novo mostra que não é um partido. É um sindicato patronal com pose aristocrática e ideias escravocratas. Pra piorar se diz liberal e se gaba de ter um processo seletivo rigoroso para identificar políticos alinhados aos seus princípios - mas permitiu que um condenado por improbidade administrativa virasse ministro do Meio Ambiente no governo Bolsonaro.


Pedro Abelardo, colocou o problema nos seguintes termos: se todas as rosas do mundo desaparecessem, o nome "rosa" ainda assim continuaria tendo significado? Por trás dessa questão se esconde a secreta relação entre as palavras e as coisas, além da teimosa recusa da linguagem em ser mero veículo de expressão dos objetos ou das ideias dos sujeitos.


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